Uma semana

Hoje faz uma semana que estou morando em Vitória. Pensei em escrever algo, mas não sabia o que dizer. Então, fui ao cinema. Sozinha.
Nunca gostei de ir ao cinema sozinha. O vazio na cadeira ao lado me incomoda.
Incomoda-me o fato de não ter com quem comentar sobre o filme. Então, aqui estou eu.

Assisti "El secreto de sus ojos", um filme argentino bem interessante.
Adoro cinema. E uma das coisas que mais gosto de fazer é empatizar com os personagens, tentar me colocar no lugar deles, compreender o que estão passando, se reconheço aquele sentimento ou experiência e como certas coisas se aplicariam na minha vida.
Claro que nem todo tipo de filme permite esse tipo de envolvimento. Tente fazer isso com algo do tipo "Quem vai ficar com Mary" (Blergh!) e vc vai entender o que estou dizendo. Mas quando isso acontece, é uma janela; uma oportunidade de olhar para a sua vida de uma forma diferente. Um novo ponto de vista.

O filme de hoje fala sobre amor, sobre paixões e sobre o passado.
O amor, nesse filme, é calmo e cuidadoso. Define-se em trocas de olhares, gestos simples (como preparar um chá de limão com mel para cuidar do outro), cumplicidades e silêncios compartilhados.
As paixões são inexplicáveis, incompreensíveis. São imutáveis, definidoras do homem. E não falo apenas de paixão por uma pessoa, mas por algo que alimenta a alma de alguma maneira, por mais incompreensível que seja.
O passado é o foco central de tudo isso. Como mastigamos, dissecamos os acontecimentos, envolvidos pela ansiedade, pela necessidade de controle e pelo perfeccionismo que as alimenta.

E por que estou falando disso? Porque o filme de ontem foi perfeito para o meu hobbie empatizador. Porque mudar é difícil.
Em uma semana, tive os meus dias cheios de "as horas" (qualquer semelhança com o filme As horas, NÃO é mera coincidência). Aqueles momentos em que você se pergunta como se faz para viver uma vida cheia de nada.
Recorri ao Mestre, nessas horas. Ele, que nunca falha, me disse para ter esperança. E meu coração se acalmou um pouco mais.
Hoje, durante o filme, Ele disse: "se você ficar vivendo só no passado, imaginando o que poder ter acontecido, como foi e como seria, você vai ter mil passados, mas nenhum futuro".
E isso é sobre mudança. E como é difícil sair da nossa zona de conforto e dos ciclos eternos de repetições infindáveis. Nos acomodamos, mesmo que o lugar seja ruim, traga sofrimento e infelicidade. Permanecemos, porque mudar exige tanto esforço, mais sofrimento, e disciplina. Assim, nos relacionamos com pessoas diferentes da mesma forma e não entendemos quando vemos o mesmo tipo de relação se formar; os nomes mudam, as circunstâncias mudam, mas no fundo são a mesma coisa.
Reclamamos todos os dias do trabalho, mas na maioria das vezes, continuamos fazendo a mesma coisa da mesma forma.
Crescer dói tanto. Ter que aprender a gostar da minha companhia apenas no cinema significa ter que conviver com tantas escolhas erradas que fiz ao longo da minha vida e que trouxeram muito sofrimento, para mim e para outras pessoas.
Significa perdoar a mim mesma por ter escolhido esses erros, por ter me fixado neles durante tanto tempo, achando que não tinha mais jeito. Significa tentar, todos os dias, fazer com que o dia seja sempre diferente; que a vida não seja cheia de nada, mas que seja sentido e significado. Que ser feliz não depende da situação ou circunstância, mas de uma disposição interna para isso.
O principal para essa mudança é a disciplina. Como disse Emmanuel (em outro filme), existem três pontos principais para seguir: disciplina, disciplina e disciplina. E como disse Renato Russo, "disciplina é liberdade". Só hoje, após essa semana e esse filme e todas essas mudanças, é que compreendi o real significado dessa frase.

Águas paradas só criam mosquito.