Namoros e romances interrompidos provocam uma irritante pergunta anos depois: “Como seria a minha vida se tivéssemos ficado juntos?” Novos relacionamentos não apagam a lembrança interrogativa. A marca. O número do telefone na agenda. A ausência de uma última chance. A esperança de um encontro acidental.
O amor não se encerra, se abandona.
Quanto maior a chance de vingar o amor, mais se cria um jeito de interrompê-lo.
São detalhes bobos e tremendamente ridículos que costumam separar.
Um pouco de esforço, um pouco de paciência, e nada teria acontecido.
O orgulho é um péssimo confidente e não deixa voltar atrás.
O que é forte perturba, não acalma.
Não conversei até esse momento com nenhum apaixonado com a cabeça no lugar. Todos estão sem cabeça e uma boca imensa a murmurar sozinha.
Assim como os separados têm suas razões, e concordo com os dois lados.
Mas por que os separados têm tanta necessidade de explicar o fim do namoro ou do casamento? A gente só explica o que não conseguiu entender.
Minha culpa é explicativa; minha confiança é lacônica.
O amor que tinha tudo para ser ideal – e não foi – sofre do “passado do umbigo”.
O passado do umbigo é acreditar que a época mais feliz já aconteceu entre os dois e não há maneira de repeti-la. Concordo: não há como repeti-la.
Só que o passado do umbigo não permite que a felicidade cresça de outra forma, diferente da circunstância anterior.
A mínima mudança de repertório, e ambos ficam chateados. Se mudaram de emprego, mudaram de idéias, mudaram de rotina. Por que não podem mudar a forma de amar?
Termina-se prisioneiro do início da relação e não se busca favorecer a diferença, e sim insistir, em grau da chatice máxima, com a semelhança.
Outro sintoma que enfraquece o amor é a aparência diante dos colegas e conhecidos.
Quando o par escuta: “Vocês formam um casal perfeito”, cuidado!, esse elogio é perigoso. “O que queremos?” assume a condição deturpada de “o que eles vão pensar?”.
O casal passa a viver mais para fora do que para dentro de casa. A expectativa dos outros contamina a pureza do trato, do convívio, a solidão de raríssimas estrelas e terra escura.
Namorar assume o despropósito de desfilar.
Há tanta gente metendo o bedelho na história que o par não consegue escutar suas vozes e vontades.
Casal perfeito é o que se separou alguma vez para voltar mais sereno e apaixonado.
(Fabrício Carpinejar, em O Amor Esquece de Começar)
Tuesday, 13 October 2009
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1 comment:
texto muito bacana.
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