Livro de Stanley Rosner e Patricia Hermes
Por que repetimos atitudes que destroem os nossos relacionamentos e nos fazem sofrer
"Há uma vitória e uma derrota - a maior e a melhor das vitórias, a mais baixa e a pior das derrotas -, que cada homem conquista ou sofre não pelas mãos dos outros, mas pelas próprias mãos." ~ Platão, Protágoras
"Recebi em meu consultório um homem para quem tudo parecia correr bem. Louis era um quarentão, um homem de negócios que aparentava ser bem casado, o pai de um grande garoto, como chamava o filho de 10 anos, bem-sucedido na vida pessoal e profissional. Mas me procurou porque estava inquieto, pensando no sentido da vida. Estava tendo um caso com uma mulher que, admitiu, não amava. Mas, mesmo sem amá-la, estava prestes a deixar sua família. Ele não entendia o próprio comportamento, mas sabia que alto estava errado. Além disso, havia jurado que nunca faria com sua família o que o pai fizera com ele. Ele revelou que seu pai havia abandonado a família quando ele tinha a mesma idade do filho - 10 anos. E seu avô paterno também largou a família quando o filho tinha 10 anos. Ele estava prestes a se tornar o terceiro pai na família a abandonar a mulher e os filhos.
Encarar o ciclo de repetição é o primeiro passo para ter algum controle sobre o que a pessoa está provocando inconscientemente.
Pode parecer implausível acreditar que um indivíduo continue agindo exatamente da maneira que o faz sofrer. Concordo que seja um contra-senso. No entanto, é plausível e possível. E ocorre constantemente.
O que é importante sinalizar aqui é que essas vidas são infernizadas e destruídas pela compulsão à repetição. Por compulsão, estou me referindo aqui a um tipo de repetição menos instintiva, uma necessidade inconsciente de repetir muitas vezes um comportamento, um impulso de levar adiante um ato, não importando as consequências, mesmo que destrua a vida e a felicidade de alguém.
Existe um momento em que a pessoa consegue reconhecer essas repetições? É possível se dar conta disso e o ciclo ser rompido realmente? Acredito que as respostas a essas questões sejam "sim". Embora não seja uma tarefa fácil. Indivíduos que passaram a vida construindo uma concepção sobre si e sobre o mundo ao redor de uma determinada percepção equivocada podem ter medo de contestar aquela visão, e isto é compreensível.
É um medo real e imenso, porque envolve a única coisa que precisamos e pela qual ansiamos - o amor.
(...)
A maioria das crianças pequenas acredita que o mundo gira ao seu redor. Com o desenvolvimento normal, esse sentimento gradativamente se dissipa. Entretanto, quando certos pais colocam os filhos no meio de suas próprias vidas e também de seus próprios conflitos, esse processo normal pode ser interrompido. A consequência é que muitas dessas crianças desenvolvem um forte senso de responsabilidade, culpa e de recriminação a si mesmas. Elas recebem de herança uma consciência severa e punitiva, dúvidas sobre si mesmas e falta de confiança. Se algo vai mal com seus pais ou com sua família, acreditam que, além de ser culpa delas, é também sua responsabilidade corrigir os erros e consertar o estrago.
Sepultar sentimentos traumáticos, experiências e memórias de sofrimento acontece a muitas pessoas. Entretanto, enterrar essas experiências não significa que elas estejam mortas. Pelo contrário, elas se incorporam, tornam-se parte indelével da imagem que as pessoas têm de si. Consequentemente, a pessoa não sabe por que age de uma determinada forma, não consegue explicar. Surge uma lacuna entre o que se sente e a base de tais sensações.
A criança que vive no adulto, a criança que sepultou seu passado traumático, revive esse fato várias vezes, tentando inconscientemente dominar aqueles eventos incontroláveis. A finalidade, portanto, é facilitar a mudança, fazer com que chegue à consciência, ajudar a criança indefesa a se tornar o adulto livre, com o controle da própria vida. Com consciência e memória, esses eventos podem ser encarados de modo diferente.
Às vezes, é preciso chegar ao sofrimento para que os problemas sejam resolvidos."
Sunday, 2 August 2009
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
"Às vezes, é preciso chegar ao sofrimento para que os problemas sejam resolvidos."
(...)
Post a Comment